Multiplicidade das Pedras Raras

Hálito das Pedras
ANTONIO CARLOS SECCHIN


A Multiplicidade das Pedras Raras em Antonio Carlos Secchin
A poesia de Antonio Carlos Secchin é mineração de gemas extremamente preciosas extraídas, lavadas, feitas, refeitas, lapidadas ao olhar de um crítico poeta ou mesmo de um ser humano irônico, que observa o cotidiano pela via risível, também paródico em ritmo de fogo e vivaz.

A modulação intelectual de Secchin se reveste de símbolos, de obsessões. Foi a maneira que o notável e reconhecido critico literário encontrou para expor o seu estilo remanescente, sem ser herdeiro ou imita dor da experiência. exitosa e anti-sentimento de João Cabral de Meio Neto, de quem é o maior leitor e intérprete, e de quem se distancia alargando a própria criação.
O título da presente obra, por mim escolhido, a critério pessoal sobre o ato criador e mágico do autor homenageado, Hálito das Redras, revisita uma das metáforas espelhadas do cristal linguístico e inovador de Secchin.
(...) não recuso teu percurso
no hálito das pedras
que me existem, em ti (...)
Essa maneira de existência, de invadir o intimo de outro, possui valor redobrado na poética secchiniana, que rememora Camões, Fernando Pessoa, Olavo Bilar, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Cecilia Meireles, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, dentre outros, que evidencia a busca incessante de uma pedra de toque que esmere os seus eleitos e, por isso, os seus favoritos.
Interessante ressaltar que o poeta é um exímio sonetista, apurado na costura métrica de linha a linha, com claro brilhantismo; a perfeição salta a cada verso posto, a cada pensamento, reflexão ou releitura evidenciada.
A casa não se acaba na soleira,
nem na laje, onde pássaros se escondem,
A casa só se acaba quando morrem
os sonhos inquilinos de um homem (...)

A casa levantada por Secchin bate à porta da imaginação . Quer transfigurar o instante para reacender a infância em todos nós.
Secchin é um depurador da nossa História Literária. Sua poesia se enraiza no íntimo dos Movimentos ou das Escolas e também dos grandes Mestres, os mais diversos, recomendados e consagrados no Brasil e em Portugal.
(...) e, pronto para apossar-me
da mais pura pedraria,
abri-a com a mão amante
de quem pisa em joalheira (...)

O seu amor ao conhecimento é pura pedraria. Antonio Carlos Secchin se apossa da matéria que lhe é substância : a Literatura. Seus poemas são metalinguísticos, sempre evidenciando o poema, o poeta e a poesia. E também às cintilações recorrentes nas dicções cabralinas e gullarinas: o galo, o sono, a pedra.Além dessas jóias concentradas no ideal, outros motes de Secchin são o mistério, a morte, o assassino, o assassinato, o suicídio, o envelhecimento e o crime estético.

(...) Deles brotam versos duros,
poemas para ferro e João.
A escrita de Secchin se faz da conjugação das palavras redivivas que saem pelo fôlego da sua visão privilegiada , respiração feroz de inteligência, de sensibilidade e, sobretudo, de refinamento de leituras e de amizades engrandecidas ao longo de sua existência.
(...) Brindemos ao que esconde o futuro:
Metáforas, Aids e ossos.
O hálito de sua planificação poética e pessimista, mas isso não torna nebuloso o seu discurso Essa maneira própria de dizer e/ou desdizer as coisas que assaltam a precariedade da vida faz plenitude na diversidade universal. E o poeta se refaz no desdém permanente do eterno, sabendo-se vate ancorado no tempo.
(...) não tenho tempo para ser eterno.

Nélida Piñon, formidável escritora carioca, classifica Antonio Carlos Secchin como "um mestre das letras e do pensamento. Um intelectual que estrutura o verbo com a precisão de quem circula pelas ideias com a desenvoltura de um viajante clássico a semear o verbo."
Concordo que Secchin seja um viajor indomável e erudito, alçando a palavra através da beleza sutil do seu lirismo, que percebe o instante, a memória, o afeto e a realidade.
(...) Tacaram pedra na Brasília da Janete,
me disseram que foi vingança do Batista.(...)
A estrutura dos poemas de Secchin segue um fluxo muito próprio, que se revela em contenção e em sabedoria. Antonio Carlos é um poeta sem excessos, tudo parece estr em perfeição; na sua linguagem única nada sobra e a palavra não desafina. Poeta que se reiinventa, a lapidar a tradição.
(...) Garganta do azul no revoo dos galos,
frio e pedras erguendo a manhã,
ouço a luz que o olhar envolve (...)
Antonio Carlos Secchin está, com merecimento, em posição de proa na poesia nacional. Ele concentra a certeza de que a poesia é a (re) significância da intuição e o retrato dos seus antônimos sem rosto, seja na ascese do humano ou mesmo no extrato do invisível.
