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Luiz Ruffato

ORIGEM E FINS DE MACHADO DE ASSIS

Luiz Ruffato*

Artigo extraído da Revista Metamorfoses da UFRJ 
(v.8 - 2018)
Link : https://revistas.ufrj.br/index.php/metamorfoses/article/view/21753/12098 

 

 

     É interessante observar que ainda hoje, passados quase 100 anos da morte do maior escritor brasileiro de todos os tempos – e um dos nomes mais importantes da literatura universal –, exista uma certa resistência à obra de Machado de Assis, vinculada principalmente a alguns estereótipos, que, tão repisados, se consolidaram no tempo. Julgamentos injustos e improcedentes, tais como: sendo afro-descendente, nunca se preocupou com a questão do negro; por conveniência, omitiu-se de opinar sobre política; carioca, escondeu a cidade em seus escritos, etc., etc., etc.

     Ora, basta repassar, mesmo que superficialmente, seus livros para derrubar, um a um, esses clichês. Sobre a escravidão, Machado de Assis escreveu duas pequenas e contundentes obras-primas: O Caso da Vara e Pai contra Mãe. Sobre política, ou melhor, sobre a forma como a política é exercida no Brasil (até agora...) pode-se ler os excelentes Teoria do Medalhão e A Sereníssima República, o significativo trecho do romance Esaú e Jacó, Tabuleta Nova, e várias crônicas – lembrando que o autor começou sua carreira justamente como jornalista político. Quanto à cidade, ela aparece inteira, e em suas múltiplas transformações, nas páginas e páginas que ele nos legou...

    Finalmente, uma última consideração. Machado de Assis é comumente tachado de autor burguês – ora, aqui talvez resida sua maior contribuição: sua análise da sociedade brasileira alcançou tal acuidade, que, ainda agora, em pleno começo do século XXI, cabe como uma mão numa luva. Somente a alguém com sua origem social – filho de um pai negro e mãe branca, pobre que teve que vencer inúmeras barreiras e preconceitos – seria possível esse olhar que enxerga por trás da hipocrisia, das etiquetas sociais, das regras, das aparências. Somente alguém que tinha sido invisível podia apontar, com profunda ironia e desencanto, as bases podres onde se erige a chamada nação brasileira.

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* Escritor, autor de Eles Eram muitos Cavalos e do projeto Inferno Provisório.

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Nota da Profª Vera Dias :  O Profº Dr. Godofredo de Oliveira Neto é autor da obra "Ilusão e Mentira", baseada no conto "Ideias de Canario" de Machado de Assis . Maiores detalhes sobre essa obra podem ser encontrados no blog que construí especialmente para ela.
 

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"É necessário haver uma atualização do passado, é fundamental entendermos que a literatura é um contínuo. Machado de Assis é maravilhoso e é preciso trazer isso para os jovens, estabelecer um diálogo entre a literatura machadiana e a contemporânea."


Godofredo de Oliveira Neto

Trecho extraído do Blog da Revista Oasys de 14 de janeiro de 2015. 

 

Qual é a sua relação com a obra de Machado de Assis?

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Godofredo : Machado é um autor seminal na história da literatura brasileira e um dos grandes escritores da literatura ocidental. Num momento em que há na literatura contemporânea o estabelecimento de modelos qualitativos individuais (cada obra é única) parece-me fundamental trazer sempre presente a qualidade literária do Bruxo do Cosme Velho. Não copiá-lo, mas examinar como o autor resolveu os problemas da arte de escrever e como respondeu literariamente às grandes questões da sua época. Aproprio-me do Machado para cantar o presente. 

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Porque elegeu esses dois textos – o conto e o romance – como inspiração para Ilusão e Mentira  ?

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Godofredo : Ideias de canário Dom Casmurro Ilusão e mentira  aborda a questão da liberdade a partir de um enfoque muito atual. A relatividade das noções do que seja liberdade leva o leitor a indagações que, espera-se, potencialize o humanismo e a fraternidade tão escassa nos dias que correm. Dom Casmurro abraça o tema da verdade de forma genial. O leitor recebe na cara essa ideia angustiante de que a verdade é uma construção retórica. O ciúme de Bentinho e as dissimulações de Capitu turvam a racionalidade do leitor. Liberdade e verdade, essas foram as minhas preocupações no  Ilusão e mentira.

Godofredo De Oliveira Neto numa crítica excelente do escritor e crítico literário José Castello sobre seu livro Ilusão e Mentira.

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Antonio Carlos Secchin

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Milton Hatoum

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Isabel Lucas
(jornalista e escritora portuguesa)

Depoimento de Nélida Piñon
"Machado de Assis é a prova de que o Brasil não pode falhar tanto"

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