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AS LIÇÕES DE ZORBA, O GREGO

 

"Todos os homens têm a sua loucura, mas a maior loucura me parece que é não ter nenhuma".

                                               (frase marcante do personagem Aléxis Zorba, no livro de Mikos Kazanzakis) 

 

Profª Ms. Vera Lúcia L. Dias

 

      Acredito piamente que  literatura transforme o homem. Conduz em seu interior uma chama incandescente que ilumina o seu interior, desnuda sua exterioridade e revela sua fisionomia.

 

   Quando fiz meu mestrado em Letras, tive uma professora, Estrela Bohadana, que era apaixonada por Mitologia Greco-Romana e me influenciou bastante, me levando a gostar de estudar Mitologia. Ela defendeu uma tese linda, intitulada "Entre Deuses e Poetas" que era um espetáculo de prosa. Ela me ensinou que, desde a antiguidade grega, que a voz da literatura esteve aliada na força simbólica da Musa, filha da Memória, com Zeus, a Ordem. O inicio da literatura Ocidental se dá, segundo os especialistas e estudiosos que pesquisei, através do busto imponente de Homero, que para além das controvérsias de sua existência, deu-nos em todo caso duas obras magnificas, a Ilíada e a Odisseia.


   A Ilíada, obra robusta, onde se narra com a força da Musa o transbordamento do herói Aquiles, que abandonando a Guerra de nove anos travada entre Gregos e Troianos, com sua ausência dá medida a obra, marca o desaguar de uma percepção que acompanhará a literatura: a trajetória do herói.


    Na Odisseia a trajetória do herói, aqui não mais Aquiles, mas Odisseu, ou Ulisses na tradição latina, representa uma iniciação, tal como Psique em Apuleio, quando se vê em busca de Eros, o Amor. Vemos, portanto, desde a antiguidade a força da literatura se erguer com sua fisionomia metafísica e simbólica encarnada no mito do herói.


    Joseph Campbell em sua obra magna – “O Herói de Mil Faces”, demonstra com invulgar propriedade a força do mito, seguindo por sua lógica as ideias de Carl Gustav Jung, que o herói encarna um valor psicológico que a literatura abarcara como parte de seu organismo interno.

    Para nós, os leitores, seja de que frondosa sombra nos encontremos, seja recostados na sombra de uma literatura grega, latina, francesa, inglesa, alemã, russa ou brasileira, é fato notório que a literatura tem o potencial de nos transformar. E é para falar sobre isso que gostaria de falar de Níkos Kazantzákis, autor de Zorba, o Grego. O escritor, novelista, filósofo e dramaturgo nasceu na capital da ilha de Creta, em 1883, então possessão do Império Otomano, que vinha dominando a Grécia desde o século XIV. E tinha um epitáfio que está gravado hoje no seu túmulo em Heraclion, na Ilha de Creta.  :
   

"Não tenho nenhuma esperança. Não tenho medo de nada. Sou livre."

      Conheci primeiro o autor assistindo ao filme que postei aqui. A princípio, quando comecei a ver as primeiras cenas, e a interpretação magistral de Anthony Quinn tudo corria bem até que  por causa de uma cena forte, uma grande passagem do filme em que a bela viúva, interpretada por Irene Papas, é caçada e assassinada, fiquei chocada. Não concordava (e ainda não concordo) com tamanha violência. Levei algum tempo para entender Zorba o Grego; hoje  acredito que este filme não é como pode parecer um filme sobre Zorba e sim um filme sobre o outro personagem, Basil, também esplendorosamente representado pelo ator Alan Bates. Mas pensando bem, com isso é pertinente questionar e pensar se houve mudanças em relação ao respeito a mulher socialmente no Brasil. A chamada lei Maria da Penha ( Lei 11340/06 | Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006) foi criada e foi um grande avanço mas hoje ainda precisa ser aperfeiçoada e está gerando muita polêmica com a nova alteração sancionada pelo Presidente Jair Bolsonaro. Vide a reportagem sobre isso clicando aqui).

      Basil é como qualquer um de nós, ele é um classe média, um anestesiado, um “intelectual” e muitos outros etc. Ele é um cara soterrado em livros (coisa da década de 60; hoje é tudo, menos livros e com um ministro que confunde o nome do maior escritor tcheco da literatura universal Franz Kafka com nome de iguaria árabe, a famosa kakta), que passa a maior parte do filme em segundo plano, tímido, retraído.

       Apesar de ele ser o “chefe”, ele não está numa posição de comando, é Zorba quem dá as cartas, quem o ensina a viver a vida com o ela é. Quando Zorba sai da mina dinamitada e pergunta “O quê?”, isso não é apenas uma tentativa do diretor do filme, Michel Cacoyannis, em transformar Zorba num sujeito sem medo da morte, é Zorba que tenta mostrar para Basil que a vida começa no nascimento e termina na morte, não importa como esta chega, se justa ou injusta, se certa ou errada, se por isso ou se por aquilo Se morreu, morreu; é a vida.

      Era aí que eu não concordava, considerava que a já referida sequência não era necessária; considerava a mesma uma apologia a costumes sem propósitos construtivos, mas senão, quase obscenos na minha então maneira de ver. O pranto sobre um corpo sem vida é, via de regra, o reconhecimento final daquilo que não se fez ao morto(a) quando ainda vivo e que deveria ter sido feito antes da sua morte chegar. Mas a vida é assim, cheia de ignorâncias, obscuridades, crimes legais e ilegais.

 

    Enquanto Basil, questionava a vida e as suas próprias fraquezas, Zorba vivia a vida em toda a sua plenitude, sem ferir ninguém, levando consigo para dar a todos , sem nada pedir por isso em troca. E penso hoje com a maturidade dos meus 63 anos que isso é mesma a forma correta de se viver, pois sabemos que o ser humano tem muito de ingratidão com seus semelhantes e devemos pensar por isso que devemos fazer o bem não por eles mas por nós mesmos.

 

     Acredito hoje  que Creta, para Kazantzakis e Cacoyannis, seria uma miniatura do mundo onde gente nasce; gente morre; gente faz coisas boas e más. Eu entendi então que Alexis Zorba não estava ali para mudar nada, mas sim, para mostrar a todos, tudo o que tinha que ser mudado e para sempre, não só naquele vilarejo perdido no meio do nada, mas pelo mundo afora.

      Por fim, resta-me concluir que Zorba, o Grego é um filme marcante, pois trata de relações humanas, mostranto que além de tudo que acontece entre Zorba e Basil, eles se mantém otimistas, como diz o próprio personagem (que é retratado com características de um homem moderno, agente de suas próprias histórias, que acredita em si e tem decisões tomadas a partir de lógicas), “dançar é a solução para os problmas que pairam sobre a existência humana


 SINOPSE :

 

 

        Basil é um escritor greco-britânico que cresceu na Inglaterra e agora passa por uma crise de criatividade e quer ir para Creta, a terra natal de seu pai. Enquanto espera para embarcar no navio que o levará à ilha, cuja saída está atrasada por causa do mau tempo, ele conhece Alexis Zorba, um grego simples e entusiasmado, com vários nomes ou apelidos; segundo ele próprio conta, um deles é "Epidemia", pois espalharia o caos aonde passa.

  

         Zorba simpatiza com Basil e pede que ele o leve na viagem, como seu intérprete e talvez cozinheiro; Basil explica que pretende reabrir a mina de linhito de seu pai e quando Zorba conta que tinha experiência com mineração então Basil concorda com a sua companhia. Ao chegarem ao vilarejo rural onde fica a mina, os dois instalam-se na pensão chamada "Hotel Ritz", de Madame Hortense, uma ex-cortesã francesa e agora uma solitária mulher.

 

       Enquanto Zorba e Hortense se tornam amantes, Basil fica conhecendo "a viúva da janela", uma pobre mulher disputada por todos os homens do vilarejo que, contudo, os rejeita com veemência. Ao ver Basil ela se interessa por ele, Zorba percebe isso, mas o homem prefere ignorá-la como a toda e qualquer mulher continuando com seu projeto de mineração.

 

       Quando começam a trabalhar na mina, Zorba e Basil descobrem que as madeiras estão podres e tudo está prestes a desabar. A mina necessita de alguns reparos, mas Zorba convence um grupo de monges a permitir a remoção de um pouco da madeira de uma floresta sob a tutela deles, que fica em uma montanha próxima e inventa um meio de transportá-las para a mina. Basil concorda com o plano que, se falhar, o deixará sem todas as suas economias inviabilizando o seu futuro como um empresário e mineiro.

 

     Quando Zorba e seu patrão retornam à cidade, a velha dama, senhora da pensão, ajuda o inglês a superar sua timidez e assim, ele toma coragem e vai visitar a viúva. Mas os rumores começam a percorrer a ilha após o escritor ter sido visto entrando na casa dela, um dos muitos admiradores da viúva é tomado pelo desespero e se suicida. Em virtude deste acontecimento, os aldeões reúnem-se para apedrejá-la e o escritor, testemunhando tudo aquilo, manda chamar Zorba. Quando ela está prestes para ser morta, Zorba chega e interfere, fazendo o agressor soltar a arma, mas quando tudo parecia contornado para ela, em um momento de descuido de todos, é apunhalada pelo pai do jovem que se matara.

 

       Sentindo que Madame Hortense estava prestes a morrer, Zorba bondosamente concorda em se casar com ela mas enquanto trabalha na mina fica sabendo que a saúde dela piorou; ele volta rápido e ela morre em seus braços. Apesar das mortes, o trabalho não pode parar, a vida continua com todo seu esplendor, não importando o que aconteça.

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