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ZORBA O GREGO : UM LIVRO QUE INCOMODA

       "Zorba, o Grego", de autoria do grego Nikos Kazantzakis foi publicado pela primeira vez em 1946, na Grécia e depois na versão inglesa em Londres em 1952, tendo como personagem principal fictício um homem chamado Alexis Zorba, inspirado num trabalhador de minas, George Zorbas, que viveu entre 1867 a 1942. A obra recebeu uma versão cinematográfica em 1964, estrelada pelo ator Anthony Quinn.

 

    O filme fez um extraordinário sucesso e deu ao nome de Kazantzakis reconhecimento mundial; Outra obra de Kazantzakis adaptada para o cinema foi "A Última Tentação de Cristo". Publicada em 1948, a obra foi levada às telas em 1998 por Martin Scorsese, causando grande polêmica pelo tratamento humano dado à figura de Cristo; Na época de sua publicação, o romance causou a excomunhão de Kazantzakis. Em 1956 Nikos Kazantzakis recebeu o Prêmio Internacional da Paz. O escritor foi também tradutor de Dante e Goethe e de outros autores clássicos para o grego moderno; Em 1957 fez uma viagem à China, onde adoeceu. Foi transferido para Copenhague e depois para um hospital em Freiburgo, na Alemanha, onde acabou falecendo. Seu corpo foi transladado para sua cidade natal, Heraclion, na Ilha de Creta.

      A história é narrada por um intelectual grego que, depois de ser chamado de "roedor de papéis" pelo grande amigo Stavridákis , decide lançar-se em uma empreitada arrojada: explorar uma mina de linhito em Creta. Num bar do porto, pouco antes de embarcar, conhece Aléxis Zorbás, a quem contrata para chefiar os trabalhos.

     Ao chegar à ilha, instalam-se temporariamente na casa de Madame Hortense, uma velha atriz  francesa que vive de seu passado e que logo cede aos encantos do empregado-chefe. De dia, enquanto Zorba comanda os operários na mina, o narrador se enfurna em sua jornada interna banhada pelo mar Líbio e materializada no manuscrito que escreve. À noite, enquanto come a sopa preparada por Zorbás, ele fica a escutar suas histórias, ouvindo-o tocar seu santir, vendo-o dançar as coisas que não consegue expressar com palavras. Suas mulheres, as guerras que viveu, suas certezas, suas dúvidas, suas loucuras. 


   O conflito entre alma e corpo, ou espírito e carne, ou divindade e homem, é um dos pilares da obra de Nikos Kazantzákis. A ele, o narrador é lançado com força através de confrontos de visão de mundo que irão remodelar seu modo de pensar. O resultado é uma nova dimensão de compreensão da alma humana, algo infestado de vida, algo que os livros não puderam lhe dar. 


     "Vida e Proezas de Aléxis Zorbás" consegue ser ao mesmo tempo um romance de aventura, que se lê com febre, e um romance de formação, que transforma. Como em todo grande livro, sua leitura não é apenas uma experiência literária de excelência, é uma experiência de vida.

     Em minha opinião Zorba, o Grego é uma verdadeira obra-prima, de fato, mas ambivalente : possui uma belíssima mensagem tendo como tema central a amizade e, acima de tudo, a capacidade de demonstrar como os seres humanos de desperdiçam o tempo que lhes é dado. 


      Zorba  para mim é a personificação do "Carpe Diem": um homem que aproveita o presente, sem se preocupar com o futuro, muito menos o passado. Ao longo do livro, a voz do personagem nos presenteia com frases célebres e ensinamentos maravilhosos, daqueles que você pode guardar na mente para sempre. "Zorba, o Grego" é, além do mais, um manual de como aproveitar a vida. Duvido que alguém, após a leitura, veja o tempo de sua vida da mesma forma. As perguntas que ficam são: será possível viver como Zorba? Estamos mais para o "patrão" ou para o grego dançarino? Como alcançar a eternidade na efemeridade da vida?


       Uma grande frase que me marcou muito no livro: "Todos os homens têm a sua loucura, mas a maior loucura me parece que é não ter nenhuma".

        No entanto, ele é um livro que também me incomodou muito. Fora a visão de mundo do personagem, muito bem descrita pelo autor que me encantou, ele é  um livro controverso, pois toca em questões dolorosas, especialmente, para as mulheres. É verdade que ele é apontado por muitos e também assim o considero como uma Ode a amizade e contém  belas imagens poéticas e tem uma linguagem fluída. Porém como mulher, obviamente, me senti desconfortável com os trechos carregados de misoginia. A imagem criada da mulher nesse livro em algumas partes é de um ser frágil, incapaz, culpada por delitos dos homens, principalmente nas falas de Zorba, o que leva a despertar no leitor certa antipatia pelo personagem, cujas falas revelam o modo de pensar de uma sociedade patriarcal e machista (o apedrejamento da viúva acusada de adultério revela isso). Ainda hoje no Brasil os números de feminicídios são altos e temos um presidente que tem feito algumas declarações misóginas em passado recente. Além da questão mencionada, o livro de forma delicada e poética toca em questões existenciais, qual o sentido da vida, como, por que e para que estamos aqui, e, já que estamos, o que podemos fazer com quem somos.


      O brilhantismo de obras literárias como essa, está justamente no incômodo provocado. Em mim a inquietação foi tão profunda que ao terminar a leitura e pensar sobre o ser humano, a sociedade e a maneira de ver e se relacionar com o outro, peguei para ler os livros de duas autoras declaradamente feministas : Nélida Piñon, com sua obra Vozes do Deserto e Sejamos todos feministas, de Chimamanda Ngosi. 

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