A meu ver, a coisa mais fascinante desse livro de Godofredo não é tanto sua história e seu final inesperado. Sem dúvida, esses dois fatores foram importantes para o sucesso do livro, mas como estudiosa de questões literárias foquei em outro aspecto fundamental para o desenvolvimento do projeto pedagógico que eu e minhas colegas professoras precisávamos a fim de  aplicá-lo com sucesso aos alunos do 8º período do ensino médio :  o formato da obra e todas as outras possíveis construções, bem como personagens e ações.

    Godofredo  contruiu uma narrativa que remete ao teatro e aos seus clássicos personagens e peças. Não sabemos muitas vezes onde transita a realidade e o imaginário no discurso da personagem Eugênia. O autor utiliza um jogo de linguagem que nos instiga a pensar sobre as inconsistências dos sentimentos humanos, e do quanto a memória pode ser uma amálgama bem feita de realidade e imaginação. Portanto essa característica da narrativa do livro fez com que eu e minhas colegas professoras vislumbrássemos a possibilidade de aplicá-lo no intuito de fornecer aos alunos uma forma diferente da usual da narrativa clássica de uma história linear que tem princípio, meio e fim bem encadeados. Nesse livro as coisas são bem diferentes : ele é um livro curto, de 160 páginas e os 21 capítulos são divididos em atos assim como nas peças teatrais. Com isso, o livro de Godofredo é, também, e antes de tudo, uma espantosa reflexão sobre a arte. A arte não só traça caminhos, mas oferece uma forma de libertação. Ela pode restaurar nosso equilíbrio e por meio dela podemos tornar o mundo mais suportável e atraente. Isso remete à fala do poeta Ferreira Gullar que declarou uma vez que a arte existia porque a vida não bastava. Negar a arte é como dizer que a vida se basta, não precisa de arte. E isso é de uma pobreza terrível ! 

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  O livro é uma expressão visceral dos desejos mais íntimos do ser humano, de suas necessidades e de seus sonhos. Através desse cenário mais teatral, o autor coloca em pauta temas importantes para debate que são atemporais em nossa sociedade.

    E para os jovens no mundo de hoje que vivem atordoados com tantas imagens que se sucedem a cada segundo, há uma certa falta de direção. E a narrativa de Godofredo poderia mostrar para eles que, para viver, devemos sempre partir do que temos, ou nunca chegaremos a nada que preste. Romper a cortina do grande teatro em que nos vemos lançados. Revirar cenários e personagens de pernas para o ar. Tomar o comando da representação mesmo sabendo, todo o tempo, que algo maior sempre nos comandará. A isso se resume, de certo modo, a vida.

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    Para prepararmos o terreno e despertarmos o interesse dos alunos que seriam alvo do nosso projeto pedagógico pela leitura da obra, começamos por oferecer a eles uma apresentação do livro nos moldes que estavam acostumados devido à sua convivência díária com a internet, celulares e outras tecnologias : o booktrailer. Como a organizadora já tinha construído para seu ex-professor um site contendo um número significativo de vídeos curtos de apresentação da obra, enviamos cada um deles por e-mail ou pelo zap de cada um dos alunos (os vídeos que eles assistiram podem ser visualizados a seguir numa galeria de vídeos).