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Apresentação

   Não tive o privilégio e a alegria de conhecer pessoalmente Sérgio Sant´anna, um dos melhores escritores de contos que já li. Ficamos amigos pelo Facebook quando, no ano passado, fiz uma postagem expondo minha admiração pela leitura de seu livro "O Homem-Mulher" que três dias antes de colocá-la no meu mural do Facebook, tinha retirado esse livro da estante para reler motivada pela visão por acaso uma foto dele nas redes sociais. E resolvi, num impulso, matar as saudades de reler os livros dele. Já possuía outros exemplares na minha estante : O Livro de Praga, Ano Noturno e o Concerto de João Gilberto. Perdi a conta de quantas vezes me aprofundei na leitura desses livros e, quando vi a postagem de um amigo comum, o Profº Godofredo de Oliveira Neto, falando da visita de cortesia que Sergio fizera a sua casa, achei uma ótima ideia apanhar o livro e reler mais uma vez seus contos surpreendentes e fantásticos.

   Tenho muitos amigos escritores no Facebook e costumo por hábito trocar comentários e ideias sobre Literatura, o que me ajuda a me manter atualizada com o meio literário. Pensei que seria uma ótima oportunidade naquela ocasião enviar a ele uma solicitação de amizade, mas não esperava mais do que um agradecimento gentil e uma curtida pela minha postagem sobre o livro dele. Como sempre faço com outros amigos escritores, queria realizar uma espécie de mini-entrevista com ele sobre seus hábitos de escrita, autores prediletos e saber um pouco sobre os livros que ele porventura estivesse escrevendo. è uma espécide de hobby e passatempo que tenho e que me dá uma enorme satisfação. Foi assim que iniciei grandes amizades virtuais com escritores renomados que nunca vi pessoalmente, mas que trocam até hoje mensagens muito profícuas comigo, me dão sugestões de livros para leitura e até orientações sobre livros e me enviam suas crítica e resenhas para que eu as comente e aprecie, como minha querida amiga Dalma Nascimento, com quem sempre estou trocando ideias sobre seus livros e postagens.

      Sérgio Sant´anna, no período de um ano e dois meses que mantivemos contato pelo Face , me surpreendeu agradavelmente. Dois dias depois de ter enviado a ele minha solicitação de amizade não apenas a confirmou, como me elogiou pelas postagens que segundo ele antes de confirmar minha solicitação, procurara ler com grande interesse, segundo ele e agradeceu efusivamente a postagem que eu fizera sobre seu livro.E começamos naquela tarde de 20/06/2019, que guardei até o horário no meu Messenger, a conversar. 
           Sérgio revelou-se muito curioso sobre minhas postagens em que eu falava sobre literatura surda e meu passado como professora de alunos surdos no Instituto Nacional de Educação de Surdos. Começava ali uma amizade feita à base de trocas de ideias sobre livros, autores e a situação do país sob o regime bolsonarista, que me proporcionou grandes lições de vida e fiquei admirada com sua sagacidade, inteligência e profunda agudeza na visão e análise dos acontecimentos políticos que atravessava o país. Ele me confessou que também fora professor e trocamos bastantes e-mails e arquivos e pequenas histórias que ele me contava e, generoso como era me enviava pedindo minha opinião. Com certeza essa afabilidade, e especialmente sua enorme generosidade com os amigos, era uma qualidade que hoje ao ler o depoimento de seus amigos em jornais e revistas após sua morte, constato tristemente o quanto ele fará falta a todos nós. Lamentei profundamente e chorei muito no dia que soube de seu falecimento através da manchete do Jornal O Globo pela internet. No mesmo dia, às duas da tarde, hora em que ele costumava me ver sempre ativa no face e me enviava uma simples saudação que começava geralmente com um "Boa Tarde, Vera. Como estão as coisas hoje ? Acabo de ler o que você escreveu..." e desandava a comentar os meus escritos enquanto eu acessava seu mural a seu convite para curtir e comentar seus desabafos contra o governo, bem como seus comentários sobre situação do país e da literatura em geral.  

         Em nosso último contato eu ria muito pois ele costumava se referir ao presidente Bolsonaro como "A Besta" e me falou de sua preocupação de ver o Brasil ficar na mão de militares. Era um homem fiel aos seus princípios e me dizia que agora, com a idade, tinha o privilégio de poder dizer as coisas ainda melhor.

        É deveras muito dolorido e chocante perder um amigo para um vírus terrível com a Covid-19.  Sérgio tinha apenas 78 anos e  muitas comorbidades. Lembro-me de que um dia contara a ele sobre meus problemas de saúde e começamos uma conversa em que acabei rindo muito de suas divertidas tiradas humorísticas sobre seus problemas de locomoção e circulação nas pernas e naquela ocasião pude sentir o quanto ele era um homem lutador, tenaz e corajoso que não se deixava abater. Tinha imensa vontade de viver e de ainda escrever coisas novas. Eu pretendia confeccionar um site sobre seus livros e contara para ele e ele demonstrou muito entusiasmado com esse meu desejo. E me contou que gostara muito dos sites que eu construíra para meu ex-professor, Godofredo de Oliveira Neto,  e que se sentia honrado por pedir sua permissão para construir um site comentando as sensações que a leitura de seus livros me provocara. Que para um escritor como ele nada é lhe daria mais satisfação e alegria. E me contava de sua paixão por escrever com sua caneta de tinta azul que sempre acabava logo e tinha de providenciar outra, como reescrevia várias vezes um texto, que escrever para ele era ao mesmo tempo um prazer e sofrimento. Que só respirava aliviado depois que um livro dele era publicado. Sua paixão por futebol e corrida de cavalos. Ele me contou tanta coisa nesse ano e dois meses de convivência pelas ondas da internet que agora que estou juntando tudo e pretendo tornar público essas trocas de mensagens que para mim está sendo doloroso e uma espécie de catarse escrever sobre esse intercâmbio que tivemos.

      Sérgio foi muito mais que um grande escritor de quem privei de sua amizade através de troca de mensagens. Foi,sobretudo, um grande ser humano, que em 78 anos de vida acumulou saberes e experiências de muitas vidas. Fará de fato, enorme falta a todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo e privar de sua amizade. 
        Encerro aqui essa apresentação desejando que os leitores desse site apreciem tanto quanto eu seus escritos e obras. 
E onde quer que você esteja, meu caro amigo Sérgio Sant´anna. que esteja também aí nesse outro lado da vida. fazendo o que você mais amava: lendo com prazer os livros da Grande Biblioteca DIvina e escrevendo para seus queridos leitores desencarnados. Agora sem dores nas suas pernas, passeando nos imensos jardins divinos em companhia de seus colegas escritores que o precederam nessa última viagem. Muito obrigada por tantos ensinamentos e lições que me proporcionou nesse ano e dois meses de contato. Que Deus o abençoe e lhe dê muita paz e luz ! 

 

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